Novidades sobre Diabetes – Endo 2015

endo_2015_mon_petit

Sempre que vou a algum congresso, os pacientes me perguntam por novidades sobre tratamento e também sobre cura do diabetes. No congresso Endo 2015, que aconteceu de 5 a 8 de março de 2015, em San Diego (EUA), muito do tema diabetes foi abordado.

Nos congressos, aproveitamos para assistir as apresentações de novos trabalhos e também revisões de temas importantes. Muitas vezes, iniciam-se esforços para se fazer novos consensos médicos, que são geralmente publicados após intenso debate de especialistas. Como estamos no contexto paralelo ao que acontece na vanguarda da medicina (EUA e Europa), é muito interessante a oportunidade de estar ao lado dos maiores médicos e pesquisadores do mundo. Os encontros com professores, geralmente nas primeiras horas da manhã, são meus compromissos favoritos, pois podemos fazer perguntas mais livremente, discutir casos apresentados e até perguntar sobre casos difíceis do nosso dia-a-dia.

Por enquanto, não há ainda nenhuma revolução no tratamento do diabetes tipo 1, como algo que leve à cura, ao controle do sistema imunológico ou que restitua as células produtoras de insulina. Apesar de muitos esforços nessa área, o desenvolvimento de tratamentos eficazes e, principalmente seguros, leva tempo. Os mais otimistas dizem que tais terapias serão realidade, pelo menos para adultos, em 10 ou mais anos.

Houve uma palestra muito interessante sobre o risco de diabetes em irmãos ou filhos de quem apresenta a doença (“Previsão do diabetes tipo 1: comunicando o risco às famílias” – Riitta Kristiina Veijola, Universidade de Oulu, Finlândia). Essa preocupação é muito relevante, já que trata-se de situação frequente e com necessidade de se sistematizar a investigação das pessoas sob maior risco, evitando assim ansiedade por anos, além de exames desnecessários. O risco é sabidamente maior nos parentes de primeiro grau, porém a avaliação laboratorial e talvez genética nem sempre são necessárias. Determinar as características de cada situação é essencial.

Outro tema interessante abordado no congresso foi a avaliação de crianças e adolescentes com alguns tipos de diabetes que são caracteristicamente herdados, portanto, mais membros da família também têm o diagnóstico. Geralmente são quadros de diabetes com evolução mais branda, nem sempre com uso de insulina. Trata-se do tipo MODY (maturity onset diabetes of the youth), com 6 subcategorias distintas, todas causadas por uma mutação genética específica (“Quem precisa da investigação de MODY?”). A vantagem de se fazer um diagnóstico de MODY é a possibilidade de mudança do tratamento – ao invés de insulina, são usados medicamentos hipoglicemiantes orais. O teste genético, que infelizmente ainda é uma barreira para a maioria das pessoas (pelo alto custo), seria indicado para quem tem uma evolução atípica do diabetes (principalmente na ausência de detecção de anticorpos), com história familiar positiva. A boa notícia é que há alternativas para os pacientes com alta probabilidade de MODY (o que é determinado na consulta): centros de pesquisa no Brasil e no mundo interessados em fazer a análise dos genes.

Como sempre, destaque para o benefício da monitorização intensiva da glicose no tratamento do diabetes tipo 1, sobretudo com sistema de monitorização intensiva. Enquanto a realidade do Brasil é muito distante do que é recomendado há anos nas principais diretrizes de tratamento do diabetes, em vários centros do mundo a glicemia contínua é uma ferramenta já utilizada com um impacto importante no controle metabólico de crianças, adolescentes e adultos, com redução das hipoglicemias. Tivemos a oportunidade de discutir casos e de aprender a sistematizar a avaliação glicêmica de pacientes, na aula do Professor George Grunberger (Universidade de Oakland, EUA).

Finalmente, como destaque do ano, na palestra do professor Mark Sperling (editor do melhor livro da atualidade de Endocrinologia Pediátrica), a apresentação do trabalho publicado em 2014 na revista Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism: “Adaptação autônoma e contínua de um pâncreas biônico bi-hormonal em adultos e adolescentes com diabetes tipo 1”. Um total de 24 diabéticos foram submetidos ao tratamento com uma bomba de infusão de insulina e também de glucagon (o hormônio que tem ação inversa à da insulina), além de monitorização contínua da glicose, por 2 dias. O grande diferencial desse trabalho é a aplicação inédita de um algoritmo que determina as doses de insulina conforme a necessidade de cada um (automaticamente) e que forneça condições para o sistema “aprender” como o corpo de cada diabético reage aos medicamentos. Os resultados foram fantásticos, ou seja, bom controle, sem hipoglicemias ou hiperglicemias. Em todos os casos, a bomba administrou insulina e glucagon conforme a necessidade individual, até com ligeira vantagem metabólica dos adolescentes.

Espero que o texto tenha despertado a atenção de todos. Estou à disposição para debater os temas e aprofundar os assuntos, pessoalmente ou nos comentários.

Gostou? Deixe seu like!